domingo, 26 de maio de 2013

A Y A H U A S C A

Começou básico: lembro dos meus pais e choro.
E assim segue: o efeito aumenta, eu choro mais.
Eu choro até perceber meu cérebro dizer: você precisa respirar.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
Quanto tempo eu fiquei sem respirar? Eu me entrego tanto ao choro que me esqueço de respirar.
E não é nem o instinto reflexo do meu corpo que me salva, e sim minha mente que me diz: respira
Eu choro muito; eu choro TUDO que cabe no tempo que eu consigo ficar sem respirar.
Eu não consigo ser feliz assim, e eu não quero que as coisas continuem assim, eu quero que todos fiquem felizes e bem, eu quero igualdade e justiça; eu não consigo ser feliz com as pessoas que morrem de fome, com as guerras, gente inocente morrendo, crianças sendo abusadas, eu não consigo ser feliz com aquele cachorro abandonado na rua, quem dirá multiplicado por todos os cães sem donos, maltratados mundo afora. Eu não consigo. Será que um dia eu vou ser feliz? Eu não consigo.
Eu não consigo nem querer ser feliz com a consciência de que são roubados milhões todos os dias, descaradamente enganando uma nação inteira, e permitindo que a violência e as condições de educação e saúde continuem péssimas.
Tá errado. Não é assim. Não é normal
Estou com o corpo contraído de dor pelo mundo, escorrendo pelos meus olhos, interrompendo minha respiração
Tomara que Deus exista.
- Kenny! Respira!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH. respirar.
- Kenny, relaxa é importante .... bla bla... blablabk....... bla
Moça, não vai.
Fica aqui perto de mim
só mais um pouco
por favor
fica
aqui
(me faz um carinho).
Fica perto de mim
só mais um pouquinho
pra sempre.

Eu choro nas palmas das minhas mãos, e meu Deus! Quanta tristeza! Quanta tristeza dentro de mim, todas elas, de cada dia que eu ignoro, em cada dia da minha vida. Eu estou boiando na superfície desse mar de tristeza e já parece muito mais do que eu posso aguentar, e eu sei que tem muito mais em profundidade e vastidão. Esse mar dentro dessa caixa, no lugar mais distante do meu subconsciente, abandonado por esquecimentos forçados; eu escolhi esquecer, mas ainda resta mágoa, tristeza.
Porque tanta briga? Porque tanto grito? Era tão triste quando eles iam trabalhar e me deixavam sozinha, eu ficava muito tempo chorando. Era tão triste não ter ninguém pra brincar. Eu tinha tanto brinquedo e me sentia tão sozinha. Eu me sentia tão burra na escola. Eu sentia tanto medo de ficar sozinha. Era tão triste. Porque assim?
respira. respira.
Porque eu não reagi como as outras crianças? Porque esse monstro invisível sempre me acompanhou com o peso da tristeza?

Se eu pudesse tocar no fundo da alma de qualquer pessoa do mundo, se eu pudesse ser ouvida e meu desejo se tornasse verdadeiro; qualquer pessoa do mundo que fosse, eu desejaria com toda a minha força que essa pessoa fosse feliz.
Eu quero que as pessoas sejam felizes.
Eu me sinto bem quando as pessoas estão felizes.
(porque eu...)

Já é difícel o suficiente respirar, porque eu tenho que fazer mais do que isso?
É tão difícel existir. Porque tanta coisa? Já me dá tanto trabalho levantar meu corpo, e sorrir; e eu ainda tenho que ser filha, irmã, sobrinha, afilhada, amiga, prima, bonita, inteligente, forte, tem que ir pra faculdade, tem que estudar, tem que ter um emprego, tem que comprar coisas no mercado, tem que comprar presente. Pra que tanta coisa?
Se eu me sinto tão bem o suficiente deitada de manhã na minha cama, com minha colcha macia me abraçando e só.
Simone.
respira.
E esse corpo? E esse mundo? E esse lugar?
Eu não sou isso, eu não sou daqui. Issto é loucura.
Mas o que é normal?
Viver como formigas para trabalhar e comprar, é normal?
Fazer coisas que não gosta para comprar coisas que não se precisa, é normal?
A palavra é agonia.
Agonia, aflição, angústia.
Eu não quero.
Ninguém entende.

Eu quero minha família.
Eu vou voltar pra Caxias.
Meu maninho.
Pai, tu quer que eu volte?
Eu vou ser melhor.
Eu quero ser melhor.
A gente se ajuda.
Eu quero que vocês sejam felizes.
Eu preciso que vocês sejam felizes par mim ser feliz.
Tia Rose.

Chama a Márcia.
A Márcia me entendia.
Eu gostava tanto da Márcia e ela fugiu.
Porque Márcia?
Eu precisava de ti.

E eu gostava tanto dele.
MEU DEUS
COMO EU GOSTAVA DELE
Como ele conseguiu fazer isso comigo?
Como eu gostava tanto dele?
COMO?
MEU DEUS!
ELE.
ELE.
.

Ele não gosta de mim
E nunca vai gostar.
Dói TANTO.
(eu sei que preciso superar, mas na verdade parece que eu nunca vou conseguir, finjo que esqueço)
Que frio.

Porque tão frio?
Mundo gelado. Mundo malvado.
Me ajuda.
Eu não consigo explicar.
As palavras são muito pequenas.
Os conceitos são muito vagos.

Estou deitada.
Permanço deitada com o tempo.
As coisas não parecem mais tão ruins.
Eu vou dar um jeito.
Eu vou conseguir.
Me abraça.
.
.
.
.
Amanhã eu vou ser aquela mesma menina.
Fazendo as mesmas coisas, indo nos mesmo lugares.
Me esforçando pra sorrir, tentando me esconder.
Eu gosto de preto ou eu me escondo?

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